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Materialidade Simples vs. Dupla: Qual é a Relevância para o Relato ESG?

Artigo Eliane Tarrit | Head ESG da Agir ESG

4, outubro, 2024

A análise de materialidade é um componente fundamental no processo de relato ambiental, social e de governança (ESG), que determina as questões mais relevantes para a organização e seus stakeholders. No contexto atual, onde a pressão por maior transparência e responsabilidade corporativa é crescente, a escolha entre materialidade simples e dupla materialidade assume um papel central na forma como as empresas comunicam seu impacto e criam valor a longo prazo. Este artigo explora as diferenças entre essas abordagens e destaca por que a adoção da dupla materialidade pode fortalecer os vínculos das empresas com a sociedade e seus stakeholders, além de discutir a importância de renovar essa análise periodicamente.

Materialidade Simples vs. Dupla Materialidade

Materialidade Simples: Tradicionalmente utilizada em relatórios financeiros, a materialidade simples concentra-se em identificar os aspectos que impactam diretamente o desempenho financeiro da empresa. Em outras palavras, as questões ESG são analisadas sob a ótica de como elas podem influenciar o valor da empresa, a percepção dos investidores e a estabilidade financeira. Essa abordagem, embora eficaz para avaliar riscos financeiros, pode desconsiderar ou considerar superficialmente parte dos impactos importantes das atividades da empresa sobre a sociedade e o meio ambiente.

Dupla Materialidade: Esta opção, por sua vez, amplia o escopo da análise, considerando não apenas os impactos financeiros das questões ESG, mas também como as atividades da empresa afetam o meio ambiente, a sociedade e a economia em geral. Essa abordagem reconhece que as empresas operam em um ecossistema interconectado, onde seus impactos sociais e ambientais podem, em última instância, influenciar sua sustentabilidade financeira a longo prazo. A dupla materialidade é uma característica central em frameworks como a Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) da União Europeia.

A Vantagem de Adotar a Dupla Materialidade

Empresas que adotam a dupla materialidade tendem a ser mais resilientes a longo prazo, pois conseguem antecipar e mitigar riscos relacionados ao ESG de maneira mais eficaz. Isso se traduz em uma gestão de riscos mais robusta e uma maior capacidade de adaptação às mudanças no cenário regulatório e nas expectativas dos stakeholders. Adotar a dupla materialidade oferece às empresas uma visão sistêmica de suas operações e de como elas interagem com o mundo ao seu redor. Isso pode gerar vários benefícios estratégicos:

Fortalecimento dos Vínculos com Stakeholders: Ao considerar seus impactos sociais e ambientais na perspectiva dos stakeholders, a empresa evidencia seu compromisso com a transparência e a responsabilidade corporativa. Isso pode fortalecer as relações com stakeholders como clientes, comunidades locais, ONGs e reguladores, que valorizam a transparência e o impacto positivo.

Mitigação de Riscos e Identificação de Oportunidades: Ao analisar os impactos externos, a dupla materialidade permite mapear riscos que não seriam captados pela materialidade simples e que podem ocasionar problemas de reputação ou gerar ações regulatórias no futuro. Além disso, essa abordagem favorece a identificação de oportunidades para inovar e criar valor, ao abordar questões sociais e ambientais.

Reputação e Valor de Marca: Empresas que adotam a dupla materialidade tendem a ser vistas como líderes em sustentabilidade, o que pode aumentar seu valor de marca e melhorar sua reputação no mercado. Em um ambiente onde consumidores e investidores estão cada vez mais sensibilizados pelas questões ESG, isso pode ser um diferencial competitivo significativo.

Alinhamento com Regulamentações Futuras: Ao avaliar seus impactos na sociedade, a empresa passa a identificar os principais desafios locais decorrentes das questões ambientais e sociais. Com a crescente adoção de normas e legislações que consideram os impactos sociais e ambientais, as empresas que antecipam e adotam essa abordagem estão melhor preparadas para cumprir futuras regulamentações, minimizando riscos de não conformidade e altos custos de adequação.

A Necessidade de Renovação Periódica da Análise de Materialidade

Qualquer que seja a opção adotada pela empresa – dupla ou simples – a análise de materialidade é um processo dinâmico; ela deve ser renovada periodicamente para refletir as mudanças no ambiente de negócios, nas expectativas dos stakeholders e nas dinâmicas sociais e ambientais. Destacamos aqui várias razões para a revisão contínua dessa análise:

Evolução das Expectativas dos Stakeholders: As prioridades e preocupações dos stakeholders podem mudar com o tempo, influenciadas por fatores como novas regulamentações, crises ambientais ou mudanças sociais. Manter a análise de materialidade atualizada garante que a empresa continue alinhada com as expectativas de seus stakeholders.

Mudanças no Ambiente Regulatório: Com a introdução de novas regulamentações, especialmente aquelas relacionadas a ESG, as empresas precisam garantir que suas práticas e relatórios estejam em conformidade. Uma análise de materialidade revisada permite que as empresas identifiquem e se ajustem às novas exigências legais.

Dinâmicas de Mercado e Riscos Emergentes: Novos riscos e oportunidades podem surgir, como inovações tecnológicas ou mudanças nas cadeias de suprimentos globais. Uma análise de materialidade renovada contribui para que a empresa se adapte rapidamente a essas mudanças e conserve sua competitividade.

Progresso nas Metas de Sustentabilidade: À medida que a empresa avança em suas metas de sustentabilidade, a relevância de determinadas questões ESG pode mudar. A revisão periódica da materialidade permite que a empresa ajuste suas prioridades e recursos de acordo com seu progresso e novas metas.

Conclusão

A análise de materialidade é um elemento crucial no relato ESG, que favorece a identificação e a priorização das questões mais relevantes para o negócio e para a sociedade. Embora a materialidade simples seja uma valiosa aliada, a adoção da dupla materialidade oferece uma perspectiva mais ampla e integrada, fortalecendo os vínculos das empresas com a sociedade e seus stakeholders.

Além disso, a renovação periódica dessa análise é essencial para garantir que a empresa esteja sempre alinhada com as mudanças no ambiente de negócios e as expectativas de seus stakeholders.

Leituras complementares para aprofundar o tema

Para aprofundar seus conhecimentos sobre materialidade simples e dupla materialidade no contexto ESG, você pode consultar as seguintes fontes:

  1. Global Reporting Initiative – GRI 
  2. International Financial Reporting Standards (IFRS) Foundation – ISSB
  3. Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) da União Europeia:

Essas fontes fornecerão uma base sólida para entender os conceitos de materialidade no contexto ESG e suas aplicações práticas.

#Bio Eliane Tarrit:

Pós graduada em Gestão de Responsabilidade e Marketing Socioambiental pela Universidade Estácio (RJ), com diversos cursos internacionais:

Pensar e agir em Complexidade (Chaire Edgar Morin) e Relatórios Extra Financeiros na ESSEC, França;

Desenvolvimento Sustentável na CNAM, França;

Desenvolvimento Sustentável e Gestão Responsável na Universidade de Laval, Canadá;

Finanças Sustentáveis na Erasmus (Holanda); entre outros.

É consultora formada pelo GRI Certified Training Program e tem formação em Relato Integrado.

Experiência com marcas como: Renault, Grupo Carrefour, Conasa, Nissan, C6 Bank, Grupo Potencial e outras.

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